agricultura familiar urbana

Áreas de servidão com adutoras ou torres de energia elétrica costumam ser locais propícios para a produção de alimentos nas cidades. Em uma dessas áreas fica a Nossa Horta Parque Continental, onde diversas famílias cultivam a terra e alimentam os laços comunitários diariamente.

Desde 2021, um grupo de famílias cuida desse pedaço de chão localizado na zona oeste de São Paulo, bem perto da divisa com Osasco. Ali, cada família produz aquilo que prefere e conforme seu interesse e disponibilidade. Há pessoas que plantam somente para consumo próprio e para compartilhar com parentes e amigos. Outras têm um ritmo de trabalho mais dedicado, produzindo verduras, legumes e frutas em quantidade suficiente para vender ali mesmo na horta, para quem tiver interesse. E há quem escoe sua produção por meio de organizações comunitárias que revendem esses alimentos ou distribuem cestas para pessoas em vulnerabilidade econômica.

Uma coisa existe em comum entre todos ali: ninguém usa veneno. As pragas são controladas com soluções tradicionais, transmitidas de geração em geração, e também por meio de métodos aprendidos mais recentemente com agrônomos, em programas de assistência técnica.

Foto: Dionizio Bueno, agosto/2024

Dilva Duarte, co-fundadora e atual coordenadora da Nossa Horta, conta que no começo algumas pessoas demonstraram pouco interesse em produzir, pois o terreno estava cheio de mato e entulho. Mas bastou um importante trabalho de limpeza, feito de forma colaborativa por ela, seu irmão Damião e mais alguns vizinhos, para que as pessoas logo começassem a se empolgar com a ideia de produzir seu próprio alimento. A área (são, na verdade, dois grandes terrenos, separados por uma rua tranquila) foi então dividida em pequenos lotes, de forma que cada núcleo pudesse produzir no seu ritmo.

Hoje tem ali pessoas das vizinhanças do entorno, como Jaguaré, Parque Continental e Areião, e também da Vila Yara e outros bairros de Osasco, município vizinho. A cada mês, atualmente, são produzidos e vendidos mais de 3000 maços ou pés de verduras como couve, azedinha, alface, escarola, acelga, espinafre, salsinha, cebolinha, coentro. Há também uma grande quantidade de plantas que são colhidas para uso próprio, sem destinação comercial, como alecrim, lavanda, sálvia, orégano, tomate cereja, capuchinha, tomilho, menta, batata doce.

Cuidar do chão e produzir é uma atividade com forte potencial curativo. Uma das vizinhas se encontrava em quadro de depressão quando conheceu a Nossa Horta. Bastou começar a mexer na terra para ela se sentir mais forte e feliz. Largou o remédio e hoje faz parte dessa rede de vizinhos que se ajudam mutuamente.

Por meio de sua frente de articulação em campo, o Bicicarreto hoje atua para formar novas conexões locais entre a Nossa Horta e outros atores da região. Um sistema alimentar se caracteriza justamente pelas conexões que se formam entre produtores, entrepostos e consumidores. É com esses pequenos ajustes que construímos um sistema mais humano, justo e orientado para o nosso sonho.

Além da possibilidade de se obter alimentos sem veneno e com baixo custo, a produção comunitária e organizada nesse tipo de espaço é uma forma simples de aproveitar áreas urbanas desocupadas – contribuindo para sua conservação –, combater os desertos alimentares e reforçar laços comunitários.


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