A ideia surgiu, naturalmente, durante um pedal.
Ao chegar de bicicleta na Comuna da Terra Irmã Alberta, na divisa de São Paulo com Cajamar, para participar de um evento, pensei: “Como é fácil vir até aqui! Seria um barato voltar com a bicicleta cheia de alimentos cultivados nestas roças.”
Resolvi articular uma ação para mostrar (para quem ainda não tenha percebido) as possibilidades do transporte em bicicleta, apoiar o movimento dos que lutam pela reforma agrária e gerar uma reflexão sobre mobilidade, autonomia, pequena propriedade, proximidade entre produtor e consumidor.
Era mais uma provocação do que qualquer outra coisa. Mas a ideia começou a amadurecer e brotar rapidamente.
Uma ação como essa é um gesto cheio de significados em diversas frentes de militância. É, em primeiro lugar, uma afirmação clara da autonomia gerada pela bicicleta, demonstrando que é possível trazer o alimento desde o sítio onde é produzido até uma cidade irracionalmente grande como São Paulo sem depender de nenhum veículo motorizado. Além disso, é um ato político e prático de apoio à reforma agrária, ajudando um assentamento do MST, localizado na borda da capital e ameaçado pelos mecanismos de expropriação urbana do mercado imobiliário, a escoar sua produção. Também sugere o tema da proximidade entre produtor e consumidor, propondo um questionamento desse modelo de agronegócio em que os alimentos são produzidos a centenas ou milhares de quilômetros de distância e dependem de muito combustível e grandes sistemas de logística para chegar às pessoas. Tudo isso além das velhas bandeiras normalmente associadas ao cicloativismo, como consumo desnecessário de energia, uso de combustíveis fósseis, geração de gases poluentes e material particulado, custos do combustível e manutenção dos veículos.
Comecei a fazer contatos para encontrar as duas pontas a serem conectadas pelo nosso transporte: alguém ligado aos produtores da Comuna Irmã Alberta e um local de comércio que pudesse receber o carregamento. Logo achei essas duas pessoas. Apresentei a ideia, que agradou muito e foi aceita rapidamente. Escolhemos a nossa data: 7 de julho.
A mobilização do grupo de ciclistas não foi diferente. Quase todos os amigos que convidei se comprometeram imediatamente a participar do BiciCarreto.
De todos os lados, a ideia faz muito sentido!
O evento está marcado. Na tarde do sábado que vem, quem estiver no Armazém do Campo vai poder presenciar a chegada do primeiro BiciCarreto. Um grupo de ciclistas virá da Comuna Irmã Alberta trazendo um carregamento de alimentos recém colhidos na roça, sem consumir uma só gota de combustível.
Com a aproximação do evento, a ideia vai se desdobrando em muitas dimensões, e um grande projeto de trabalho está surgindo. Agora acaba de ganhar um domínio. Este portal vai registrar os movimentos do BiciCarreto e ajudar a mostrar que este projeto é muito mais que um grupo de bicicletas com caixas e alforjes cheios de produtos orgânicos.
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